Cada vez mais comuns nas ruas, carros elétricos e híbridos circulam nas ruas do Brasil, e projeções já apontam que em 2040, mais da metade dos carros circulando tenham motorização, ainda que parcial, elétrica.
Mas não precisamos falar da maioria dos carros, apenas de alguns condôminos proprietários de carro elétricos que precisam carregá-los em sua vaga no condomínio, como proceder?
Somente empreendimentos mais recentes e de um padrão econômico um pouco mais elevado vem dotados de preparação ou tomadas para receber a nova frota elétrica.
E para a esmagadora maioria dos condomínios que foram projetados em outros tempos, demandam do Síndico um preparo e planejamento que deve começar já no caso do primeiro morador com carro elétrico ou mesmo antes disso, alertando proprietários que será inviável contar com pontos de recarga no Condomínio.
Quais os principais cuidados com carros elétricos no condomínio?
Custos da instalação: para termos a tomada na vaga, teremos o custo com a tomada em si, cabeamento, infra, para energizar desde o quadro. Importante ficar claro que esse custo é do morador, salvo Assembleia definindo que o próprio condomínio fará instalação, beneficiando com tomadas todas as unidades do Condomínio.
Nesse caso, de sonhos, haverá maior fiscalização, custo menor por apartamento. Deverá haver o convencimento dos não proprietários de carros elétricos a investir, e mesmo que não utilize a tomada naquele momento, já existe uma valorização para a unidade, pois amplia gama de possíveis locatários/compradores no futuro.
Demanda energética: cada empreendimento tem em seu projeto elétrico um dimensionamento para uso de energia nas unidades e áreas comuns. Calcula-se quanto em média cada unidade demandará, quais equipamentos e iluminação estarão presentes em áreas comuns e a partir disto se dimensionam – com certa folga – fiação, disjuntores, quadros elétricos, necessidade de cabines primárias.
Logo, há uma previsão de uso para garagens, que geralmente não conta com tomadas para carros elétricos. Não raro a “sobra” de energia da conta de 100Kw, 200Kw no máximo, suficiente para ligar equipamentos como aspiradores, lavadoras de alta pressão, Lâmpadas excedentes, mas não suporta que vários carros elétricos sejam simultaneamente carregados.
A maioria dos veículos Brasil carregam em 7,4kW ou 11kW, chegando em alguns casos a 22kW e nos insanos Teslas podendo passar de 100kW.
Logo, 2 Veículos Teslas podem derrubar disjuntores de toda a garagem se carregados simultaneamente e tomadas forem instaladas dando carga plena para esses carros. Para efeito de comparação, um carro elétrico normal, com carregamento de 11kW, equivale a 275 lâmpadas tubulares de 40W ou 8 Lavadoras de Alta Pressão de média potência. E quando demandado mais carga que fiação e disjuntores suportam distribuir, o quadro elétrico vai desarmar e a garagem no escuro estará.
Por isso, a preocupação e planejamento deve ocorrer logo no primeiro carro elétrico, pensando no futuro, quando vários bólidos energizados adentrarão as garagens do seu condomínio.
Um carro hoje não será risco, mas a depender da “sobra” energética para garagem e tomadas permitidas (existem tomadas no mercado já capazes de carregar acima de 300kW, isso é mais que a esmagadora maioria dos condomínios tem para toda a garagem)com três ou quatro carros, ainda que com carregamentos normais, já poderemos ter um “distúrbio na força”.
Por isso, a necessidade de o Condomínio ter acompanhamento de uma empresa especializada, com Engenheiro Elétrico, para estudar número máximo de veículos em carregamento simultâneo, carga máxima de cada carregador e em casos que demanda por carros elétricos será alta, projetos para redimensionamento do projeto elétrico ou mesmo medidores da Companhia de Energia local diretamente conectados às tomadas de cada vaga.
Existem no mercado empresas que instalam tomadas/medidores inteligentes que distribuem para as vagas somente a carga remanescente da garagem, inclusive distribuindo a velocidade da carga de acordo com número de carros conectados no momento, é dizer, um carro carregando, potência total, 10 carros, potência total disponível naquele momento, dividida por 10.
Pagamento do consumo da energia: o terceiro fator para cuidado e possivelmente o que mais vai gerar confusão em grupos de moradores é: mas o camarada do 401 está carregando a BMW dele na área comum e estamos pagando para ele?
Por isso, vital que se estabeleça desde o princípio como serão feitas as leituras para mensurar uso da energia nos carregadores das vagas veiculares. Isso é relativamente fácil de ser contornado com a instalação de medidores de energia antes das tomadas veiculares.
O Síndico, zelador ou gerente predial, tal qual fazem para leitura de hidrômetros e gás, fará leitura desses medidores e encaminhará para a Administradora que fará a cobrança no boleto condominial, a diferença aqui é que nem todos terão medidores. Se um morador instalar a tomada sem o respectivo medidor, deverá ser notificado/multado para imediata regularização.
Caso seja um condomínio que conseguiu aprovar junto à companhia de energia local a alteração do projeto elétrico, com a instalação de medidores individuais para cada garagem em que morador solicitar, essa leitura será dispensada, pois a própria companhia fará a cobrança, sem integrar esse consumo a fatura das áreas comuns do Condomínio.
Espero que esse artigo tenha ajudado você de alguma forma. Em caso de dúvidas sobre esse tema ou qualquer outro relacionado à gestão de condomínios, fique à vontade para comentar aqui embaixo ou entrar em contato conosco. Será um prazer ajudá-lo!
Por Maicon Guedes, Advogado, Mestre e Professor em Direito, CEO da Informma Síndicos